segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uso dos recursos naturais

Publicado em: Revista Cotoxó, Jequié-BA, p. 8 - 8, 01 abr. 2011.

Em uma sociedade dividida por classes sociais, a interação ou a utilização dos recursos naturais se processa de forma desigual; nela, poucos gozam dos benefícios do ambiente e muitos são privados destes. Surge a necessidade de uma compreensão e intervenção sobre esta situação. Vale salientar que compreensão, mudanças e intervenções devem ser entendidas não apenas sob o ponto de vista individual, mas também como um processo coletivo, pois as questões ambientais fazem parte das relações socioculturais no contexto local e global.
Percebe-se, ao longo da história, que a relação do homem com o meio ambiente tem sido considerada como predatória e catastrófica, por muito tempo a natureza foi vista como um recurso natural a ser dominado e explorado.
A natureza sempre foi vista como um bem a ser explorado, em que o desenvolvimento econômico era e continua a ser fundamentado no uso dos recursos naturais.  Assim, a natureza foi tomada segundo a utilidade para suprir as necessidades humanas.
Na visão de Loureiro (2002), nós humanos não dominamos a natureza, mas estamos em constante interação com os seus recursos, porém, por meio das relações de produção a sociedade desenvolve a chamada ação predatória causando danos ao planeta Terra.
A ação predatória contra o ambiente gerou a degradação ambiental. As conseqüências desta degradação também são originadas de um conjunto de variáveis interconectas derivadas do capitalismo/modernidade/industrialismo/urbanização/ tecnocracia (LOUREIRO, 2002).
 Carvalho (2008) salienta que o inicio da degradação da natureza se desenvolveu a partir da saída do campo para o meio urbano. Uma das causas sobre o processo migratório do campo para a cidade residia na idéia de que as pessoas criadas na cidade eram consideradas mais cultas que aquelas que viviam nos campos.  Em tal processo, foram-se evidenciando os efeitos das alterações sobre o ambiente, causadas principalmente pelo desenvolvimento industrial; com isso, foi-se destacando o fenômeno das “novas sensibilidades[1]” com o objetivo de valorizar as paisagens naturais, das plantas e dos animais.
No referido contexto, em que se idealizou a natureza como uma reserva de bem e beleza, isso propiciou a exploração dos recursos naturais e os danos causados ao ambiente
É relevante se levar em consideração que os atores sociais que estão envolvidos e interagindo com o ambiente são representantes de grupos sociais distintos, que possuem seus ideais e objetivações sobre o meio no qual se encontram inseridos.
Segundo Carvalho (2008, p. 105) “o ambiente enquanto espaço de relações entre sociedade e natureza, tende a ser arena de competição e administração de recursos, onde o ser humano reina como sujeito de uma razão instrumental, acreditando-se senhor de si mesmo e dos destinos do planeta”.
Na sociedade contemporânea, há uma mobilização para o cuidado com a natureza fundamentada na sensibilidade ecológica, que se baseia no interesse da sociedade e dos processos naturais. Evidencia a preocupação com os limites da natureza que servem como indicadores das decisões sociais, demonstrando posicionamento contra os benefícios imediatos e utilitaristas vigentes na sociedade capitalista de acúmulo de lucros e de consumo.
 Diante do que foi abordado, é importante perguntar como satisfazer às necessidades econômicas, políticas, tecnológicas, sociais e culturais sem provocar o total colapso do meio ambiente?
Penteado (2007) considera que existem três modos de pensar sobre a ação do homem no meio ambiente: (a) a lógica humanista, com interesse no atendimento das necessidades do ser humano; (b) a lógica capitalista, voltada para o acúmulo do lucro e (c) a lógica ambientalista, que considera o conjunto de elementos da natureza inter-relacionados, com especial destaque para a vida social.

SAIBA MAIS EM:
CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2008.

LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo. Teoria social e questão ambiental: pressupostos para uma práxis crítica em educação ambiental.  In: LOUREIRO, Carlos Frederico Bernardo;  LAYRARGUES, Philippe Pomier; CASTRO, Ronildo Souza (Orgs.). Sociedade e meio ambiente: a educação ambiental em debate. São Paulo: Cortez, 2002.

PENTEADO, Heloisa Dupas. Meio Ambiente e formação de professores. São Paulo: Cortez, 2007.



[1] Fenômeno estudado por Thomas (1989) como um traço cultural ligado ao ambiente social inglês do século XVIII, que enfatizava a mudança no padrão de percepção do mundo natural (CARVALHO, 2008, p. 97).