segunda-feira, 6 de junho de 2011

A relação entre a espécie humana e o ambiente

Publicado em: Revista Cotoxó, Jequié - Bahia, p. 17 - 17, 01 fev. 2011.

Ao discorrer sobre o Ambiente torna-se necessário analisar as relações estabelecidas com a espécie humana, visto que tal espécie é aquela que mais modifica o meio onde ela se estabelece, porém, está relação é muito complexa na medida em que deve-se levar em consideração a interface entre trabalho, natureza e sociedade para uma melhor compreensão da apropriação dos recursos naturais pelo homem.
Seguindo algumas considerações (ANTUNES, 2005; FOSTER, 2005: NETTO e BRAZ, 2008), encontramos o trabalho visto como um processo de humanização que possibilitou o salto ontológico das formas pré-humanas para o ser social. Na vida do ser social o trabalho também pode ser considerado como produtor de valores de uso que permeia a relação metabólica entre o ser social e a natureza.
Do ponto de vista de produtor de valores de uso os objetos naturais são transformados em coisas úteis, sendo que, “nas formas mais desenvolvidas da práxis social, paralelamente a essa relação homem-natureza desenvolvem-se inter-relações com outros seres sociais, também com vistas à produção de valores de uso” (ANTUNES, 2005, p.139).
O trabalho é um processo que simultaneamente altera a natureza e auto-transforma o próprio ser que trabalha, na medida em que a natureza humana é também modificada a partir do processo laborativo, da existência de uma finalidade e de uma realização prática  
O homem no decorrer dos tempos mostrou a sua capacidade de interferir no ambiente, onde aprendeu a controlar o fogo, desenvolveu a agricultura e criou tecnologias, demonstrando não ser apenas um agente do meio, mas agente dotado de intenções conscientes para alterar a dinâmica do ambiente para maximizar o seu conforto.
A interação com a natureza tem permitido ao ser humano inserido na sociedade a satisfação material das suas necessidades transformando recursos naturais em produtos mediante o trabalho. Desta forma, a existência da sociedade humana depende da existência da natureza-ambiente, sem perder de vista que toda e qualquer espécie faz parte da natureza.
Mesmo com o a inserção do homem no meio social, ele não perde em si a condição originária de membro da natureza, porém, como ilustram Netto e Braz (2008, p. 38): “quanto mais o homem se humaniza, quanto mais se torna ser social, tanto menos o ser natural é determinante em sua vida”, ou seja, “o desenvolvimento do ser social significa, pois, que, embora se mantenham as determinações naturais, elas são progressivamente afastadas”. O ser social não se esgota no trabalho, a medida que o homem diversifica suas objetivações materiais e ideais representadas nas expressões do pensamento religioso, da reflexão científica e filosófica e da arte.
Como parte ou membro da natureza, o ser social, dotado de conhecimentos e visões de mundo, não pode negar a sua essência. Então, tornam-se cada vez mais necessárias reflexões sobre as atividades da espécie humana sobre o ambiente. Sendo assim, lançamos alguns questionamentos: (a) Como o ser social contemporâneo tem utilizado os seus saberes na interação com o ambiente? (b) Como a sociedade tem contribuído para a reflexão sobre a interação espécie humana-ambiente? (c) Quais as reais objetivações materiais da sociedade contemporânea? (d) Como o sistema econômico interfere nas questões ambientais? (e) Estamos vivendo uma crise ambiental ou uma crise civilizatória? (f) Como você classifica a sua interação com o ambiente?

SAIBA MAIS EM:
ANTUNES, R.Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2005.
FOSTER, J. B. A ecologia de Marx: materialismo e natureza. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005. (Introdução; capítulo V – o metabolismo entre natureza e sociedade).
NETTO, J. P. e BRAZ, M. Economia política: uma introdução crítica. São Paulo: Cortez, 2008.