segunda-feira, 6 de junho de 2011

As correntes Ambientalistas

Publicado em:  Revista Cotoxó, Jequié-BA, p. 08 - 08, 01 mar. 2011.

No campo ambiental, transitam algumas correntes ambientalistas que evidenciam diferentes formas de o homem perceber e entender o ambiente, as quais são denominadas como “culto ao silvestre”, “evangelho de ecoeficiência” e “ecologismo dos pobres”.
O culto ao silvestre fundamenta-se na defesa da natureza intocada, ou seja, no culto de amor às paisagens (bosques, florestas, rios...) sem relacioná-las aos interesses materiais, e sem se contrapor diretamente ao crescimento econômico, visto que “visa preservar e manter o que resta dos espaços da natureza original situado fora da influência do mercado” (ALIER, 2007, p. 22).
O culto ao silvestre tem por proposta manter as reservas naturais livres da interferência humana e está estruturado na biologia da conservação, assumindo uma posição utilitarista na medida em que aceita a importância do conhecimento e o uso da biodiversidade (LOUREIRO et al., 2009).
O evangelho da ecoeficiência caracteriza-se pela preocupação crescente com os efeitos do crescimento econômico no âmbito da natureza. Está atento para a economia industrial, urbana e agrícola, considerando-se que tem como foco os impactos sobre o ambiente e a saúde provocados pelas atividades industriais, da urbanização e da agricultura moderna. Está pautado na defesa do crescimento econômico, conjugado ao desenvolvimento sustentável, à modernização ecológica e à utilização dos recursos naturais (ALIER, 2007).
Loureiro e colaboradores (2009) sinalizam que tanto o culto ao silvestre como o evangelho da ecoficiência são correntes ambientalistas legitimadas pela ideologia dominante.


Por mais que tenham denominações e idealizações políticas diferentes, as correntes ambientalistas do culto ao silvestre, do evangelho da ecoeficiência e do ecologismo dos pobres podem mostrar desacordos e intercruzamentos e conviver em simultaneidade.
O ecologismo dos pobres também é chamado de ecologismo popular, movimento de justiça ambiental, ecologismo do sustento, ecologismo da sobrevivência humana e ecologia da libertação. A política desta corrente é voltada para o interesse material do ambiente como fonte de condição para a subsistência. Evidencia sua preocupação com a justiça social contemporânea entre os homens e pontua o efeito nocivo do crescimento econômico, no que diz respeito ao deslocamento geográfico das fontes de recursos e das áreas de descarte dos resíduos (ALIER, 2007).
A corrente do ecologismo dos pobres tem se expandido mundialmente. Os efeitos nocivos do desenvolvimento econômico sobre o ambiente não apenas estão ligados aos remanescentes da natureza, como estão relacionados ao uso das matérias-primas e das zonas de descartes de resíduos nas áreas habitadas por populações desbastadas de condições e infraestrutura condizentes com uma habitação digna.
Segundo Loureiro e colaboradores (2009), no Brasil se encontram desigualdades e injustiças onde grupos sociais estão em situação de expropriação e subordinação, como aqueles que moram em periferias urbanas e dependem da extração e manejo de recursos naturais, e outros grupos que não sobrevivem diretamente do uso dos recursos ambientais, mas que se tronam reféns e às vezes defensores do modelo de desenvolvimento dominante.
Ainda de acordo com Loureiro e colaboradores (2009), para que o ecologismo dos pobres possa se configurar como uma luta por justiça social, é necessário que os grupos envolvidos tenham consciência de classe sobre a vulnerabilidade socioambiental, expondo os conflitos por meio de uma ação política bem estruturada.
As três correntes anteriormente citadas são representadas por atores sociais que possuem distintas formas de compreender, entender e interagir com o ambiente. Assim, pode-se dizer que o culto ao silvestre é representado por biólogos conservacionistas e organizações não governamentais. O evangelho da ecoeficiência se encontra representado por engenheiros e economistas, e o ecologismo dos pobres, por grupos sociais ligados a sindicatos, movimentos feministas, movimentos contra racismo e demais grupos que são excluídos pelo sistema econômico vigente e buscam uma mudança deste processo.
Partindo desta constatação, pode-se inferir que a discussão sobre ambiente constitui-se em um espaço de conflitos envolvem as relações de uso e apropriação material e de concorrência e dominação por formas culturais de existência.

SAIBA MAIS EM:
ALIER, J. M. O ecologismo dos pobres. São Paulo: Contexto, 2007.
LOUREIRO, Carlos Frederico et al. Os vários “ecologismos dos pobres” e as relações de dominação no campo ambiental. In: LOUREIRO, Carlos Frederico et al. (Orgs.). Repensar a educação ambiental: um olhar crítico. São Paulo: Cortez, 2009.